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Tão longe, tão perto
Artigo de Heiko Maas, Ministro das Relações Externas da Alemanha
A diplomacia às vezes é injusta. Venezuela, Síria, Coreia do Norte – quando há tantas crises no mundo como é atualmente o caso, elas concentram em si quase todas as atenções. Investir em parcerias históricas, desenvolver alianças – tudo isso é então remetido para segundo plano.
Mas é uma atitude arriscada. Em um mundo cada vez mais complexo, precisamos de parceiros fortes. A ordem mundial com suas regras e certezas claras está sendo desafiada de forma cada vez mais aberta, mesmo por aqueles de quem isso não se esperava. Nossa democracia liberal é posta em questão por modelos autoritários, sendo a China e a Rússia apenas os atores mais visíveis. O protecionismo está se tornando uma ameaça para o comércio mundial. No mundo inteiro estão em ascensão aqueles que apostam no isolamento e em muros.
É o paradoxo dos populistas. Porque nem a globalização, nem a digitalização, nem a migração ou as mudanças climáticas respeitam fronteiras. A ideia de que é possível fechar a porta aos desafios globais ou que eles podem ser resolvidos em um nível estritamente nacional é perigosamente ingênua!
Para nós na América Latina, no Caribe e na Europa, muito está em jogo, porque em um mundo onde a força da lei é substituída pela lei do mais forte, todos só temos a perder. Não somos superpotências militares. Não podemos nem queremos ditar nossas regras aos outros. Se queremos ter uma palavra a dizer, se queremos evitar que outros decidam por nós, então temos de cerrar fileiras.
Estamos separados pelo Oceano Atlântico. Mas partilhamos valores e interesses semelhantes, estamos unidos por estreitos laços culturais. Vivemos nas regiões mais democráticas do mundo. Acreditamos em regras internacionais que garantam a segurança jurídica e que contribuam para o crescimento econômico e para a prosperidade. Acreditamos na cooperação internacional, porque nossos países se beneficiam do intercâmbio e da abertura. Acreditamos que juntos somos mais fortes do que cada um e cada uma de nós seria sozinho. Em suma: nossos países são aliados naturais.
O Brasil e a Alemanha estão ligados não só por uma história de imigração com quase duzentos anos, mas também por uma importante cooperação científica e por estreitas ligações econômicas. Cooperamos na área da proteção do ambiente e do uso sustentável de recursos naturais. Nas Nações Unidas, a Alemanha e o Brasil têm uma tradição de colaboração estreita e se engajam juntos em prol de uma reforma do Conselho de Segurança.
É nessa cooperação que a Alemanha vê o ponto de partida para sua nova Iniciativa América Latina e Caribe. O primeiro passo vai ser dado com uma conferência que terá lugar a 28 de maio em Berlim e para a qual convidei meus colegas da América Latina e do Caribe. Juntos queremos debater e proceder a uma reavaliação da nossa parceria. E não vamos fazê‑lo sozinhos. Seremos aconselhados por especialistas das mais diversas áreas, como a política externa e de segurança, as questões relacionadas com o Estado de Direito, questões climáticas e a cooperação científica.
Oferecemos aos nossos parceiros uma agenda comercial positiva. A América Latina, o Caribe e a Europa não podem se transformar em danos colaterais da disputa comercial entre os EUA e a China. Enquanto europeus, apostamos em um comércio justo que respeite as normas ambientais e sociais e que preserve os direitos trabalhistas. Conseguimos assegurar isso nos acordos comerciais com o Chile e o México e nos acordos multilaterais com o Peru, a Colômbia e o Equador, bem como com a região da América Central. Chegando a um acordo de livre comércio com os países do MERCOSUL, seria mais um passo importante para mostrar que estamos moldando o sistema de comércio mundial de acordo com os nossos valores, porque acreditamos que ele deve estar ao serviço das pessoas – e não o contrário.
As populações em nossos países esperam de nós, com razão, que moldemos a globalização e a revolução digital de forma justa e humana. No entanto, se no futuro apenas nos restar escolher entre uma esfera tecnológica estadunidense e outra chinesa, nada sobrará de nossa autonomia para definir regras em conformidade com nossos valores. Por isso, a nossa iniciativa inclui um Fórum do Futuro em Berlim, em que, juntamente com nossos amigos da América Latina e do Caribe, queremos encontrar respostas a questões candentes: O que significa a revolução digital para a nossa segurança e para o equilíbrio de poderes internacional? Como nossas democracias podem se defender contra a desinformação no ciberespaço? Das respostas a essas questões dependerá a capacidade de nossas sociedades abertas de se afirmarem perante contra‑projetos autoritários.
Um pilar central da nossa iniciativa é o fortalecimento dos direitos das mulheres. Todos estamos comprometidos com o princípio da igualdade de gênero, dos direitos e das oportunidades iguais para mulheres e homens. Isso, porque sabemos que sem igualdade de gênero não existe democracia verdadeira. Mas temos de admitir também que a luta contra o tratamento desigual, contra a discriminação e contra a violência sexual está longe de estar vencida. Por isso, queremos criar uma Rede de Mulheres Alemanha-América Latina para juntar aquelas e aqueles que lutam por oportunidades iguais de mulheres e de homens e que, assim, tornam nossas sociedades mais fortes.
Faz precisamente 250 anos que nasceu Alexander von Humboldt, o grande pesquisador e viajante pela América. Certa vez, esse naturalista cogitou sobre um governo mundial, sem o qual a história mundial não seria compreensível. Creio que o sonho de Humboldt permanecerá uma utopia. Cabe a nós afirmar nossos valores e interesses comuns a nível global. Juntos teremos força suficiente: os 61 países da UE, da América Latina e o Caribe representam quase um terço dos países membros da Organização das Nações Unidas. Somos mais de um bilhão de mulheres e de homens e geramos 40% do Produto Nacional Bruto do mundo. Está na altura de aproveitarmos essa força em conjunto.